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Otávio Mangabeira (O. Cavalcanti M.), engenheiro civil, jornalista, professor, político, diplomata, orador e ensaísta, nasceu em Salvador, BA, em 27 de agosto de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 29 de novembro de 1960. Eleito em 25 de setembro de 1930 para a Cadeira n. 23, na sucessão de Alfredo Pujol, foi recebido em 1o de setembro de 1934, pelo acadêmico Afonso Celso

Era filho do farmacêutico Francisco Cavalcanti Mangabeira e de Augusta Mangabeira. Fez os estudos primários e secundários na cidade natal e formou-se em Engenharia pela Escola Politécnica, hoje Universidade da Bahia. A sua ação desdobrou-se em múltiplos cargos: engenheiro encarregado da inspeção dos trabalhos do porto da Bahia e professor de Astronomia da Escola Politécnica da Bahia (1907-1911); membro do Conselho Municipal de Salvador (1908-1912); eleito deputado federal em inúmeras legislaturas, de 1912 a 1926. Vice-presidente da Câmara dos Deputados em 1926, foi convidado pelo presidente Washington Luís para gerir a pasta das Relações Exteriores. Nela se manteve até o triunfo da Revolução de 1930. Sua passagem pelo Itamarati foi marcada por um trabalho fecundo para a diplomacia brasileira. Em relação à definição de fronteiras com todas as repúblicas hispano-americanas e as Guianas, empenhou-se em resolver várias questões complementares da obra do Barão do Rio Branco, concluindo diversos tratados e acordos com esse objetivo. Em 1927 reuniu-se no Rio de Janeiro a 13a Conferência Parlamentar Internacional de Comércio, na qual estiveram representadas quase todas as nações do mundo. Para a Conferência Pan-Americana de Havana expediu Otávio Mangabeira instruções que permitiram à delegação brasileira, chefiada pelo embaixador Raul Fernandes, uma ação decisiva em favor da aproximação dos pontos de vista dos Estados Unidos e da América espanhola. Uma medida importante tomada pelo Ministro Mangabeira foi a expedição da Circular 231 de 1928, recomendando aos corpos diplomático e consular a defesa e divulgação da língua portuguesa. O volume Pelos foros do idioma (1930) contém discursos e artigos publicados naquela ocasião.

Com a vitória da Revolução desencadeada no país em 1930, Otávio Mangabeira foi exilado, passando a residir nos Estados Unidos, onde muito trabalhou para manter-se. Anistiado, regressou ao Brasil em 1945, passando a pertencer a uma novo partido que surgia: União Democrática Nacional. Pela legenda desse partido, foi de novo eleito para a Câmara Federal, em 1946, pelo Estado da Bahia.

Considerado um dos grandes vultos da Assembléia Constituinte que se reuniu naquele ano, foi eleito por seus pares para a primeira vice-presidência a mesma. Após a promulgação da Constituição de 18 de setembro de 1946, foi candidato à vice-presidência da República, em eleição indireta, conforme previa o artigo primeiro do Ato das Disposições Transitórias. Em 1947, foi eleito governador do Estado da Bahia, tendo realizado um dos períodos governamentais mais calmos daquele Estado, efetivando ampla série de obras na capital e no interior. Permaneceu no Palácio da Aclamação até o fim do seu quatriênio, por isso ficou sem mandato popular de 1950 a 1954.

Eleito senador em 1958, já aos 72 anos, Otávio Mangabeira continuou, na Câmara alta, o mesmo tribuno que a Câmara Federal se acostumara a ouvir em silêncio e com as galerias superlotadas. Oposicionista, sempre pautou suas críticas pelo espírito de honestidade e justiça. Em todas as circunstâncias, no Governo ou na Oposição, deu sempre o mesmo exemplo de coragem, de firmeza de posição e de leal servidor das causas a que se entregou na vida pública.

Obras: Halley e o cometa do seu nome, astronomia (1910); Voto da saudade, ensaio (1930); Pelos foros do idioma, discursos e artigos (1930); Christus Imperat, ensaio (1930); Tradições navais do Brasil (1930); A Nação e os problemas de governo Saudação aos Drs. Washington Luís e Mello Viana (1930); Introdução ao Relatório do Ministério das Relações Exteriores, de 1926 a 1930; As últimas horas da legalidade, história (1930); Machado de Assis, antologia de contos e excertos de romances, precedidos de introdução (1954); A situação nacional, três discursos de 1955 na Câmara dos Deputados (1956). Conferências: "Cinqüentenário da morte de Francisco Mangabeira" (1954); "Cinqüentenário da morte de Machado de Assis"; "Centenário de Gil Vicente". Otávio Mangabeira Discursos parlamentares, seleção e introdução de Josaphat Marinho (1978).

Além desses trabalhos, há a considerar as Atas do Conselho Municipal de Salvador, de 1909 a 1911; as Mensagens governamentais dirigidas à Assembléia Legislativa da Bahia, datadas de 1948 a 1951; os discursos parlamentares publicados nos Anais da Câmara dos Deputados e do Senado, entre 1912 a 1960 (muitos deles incluídos no volume dos Discursos parlamentares), bem como conferências e entrevistas constantes de avulsos, revistas e jornais.