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Nélida Piñon (N. Cuinãs P.), jornalista, romancista, contista, professora, é carioca de Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJ. Nasceu em 3 de maio de 1937. Eleita em 27 de julho de 1989 para a Cadeira n. 30, na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda, foi recebida em 3 de maio de 1990, pelo acadêmico Lêdo Ivo.

Filha de Lino Piñon Muiños, comerciante, e Olívia Cuiñas Piñon. O nome Nélida é anagrama do nome do avô, Daniel. Sua família é originária da Galiza, radicada no Brasil desde a década de 1920. Na infância, seus pais a estimularam para a leitura, deram-lhe livros e levaram-na a viajar. Aos dez anos foi para a Galiza, onde ficou dois anos. Essa vivência foi fundamental para a futura escritora, que em sua obra irá revelar, sobretudo, o amor por duas pátrias: a Galiza e o Brasil.

Formou-se em Jornalismo pela Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Foi editora assistente da revista Cadernos Brasileiros (1966-67); membro do Conselho Consultivo da revista Tempo Brasileiro (1976-1993), da revista Impressões (1997), dos Cadernos Pedagógicos e Culturais (1993); membro do Conselho Editorial da revista Imagem Latino-Americana (Caracas, 1993), da Encyclopedia of Latin American Literature (Inglaterra, 1994), da Review: Latin American Literature and Arts (Nova York, desde junho de 1995); colunista semanal do jornal O Dia (Rio de Janeiro, desde 1995). Exerceu cargos no Conselho Consultivo de inúmeras entidades culturais do Rio de Janeiro.

Inaugurou a cadeira de Criação Literária na Faculdade de Letras da UFRJ. Desde 1965, quando recebeu a bolsa "Leader Grant", concedida pelo Governo norte-americano, que lhe deu a oportunidade de viajar pelos Estados Unidos, Nélida Piñon tem feito viagens a vários países, para participar de congressos, seminários e encontros internacionais, proferindo conferências e palestras, sobre temas ligados à cultura, à literatura e à criação literária. Deu cursos na City University of New York, na Columbia University, na John Hopkins University em Baltimore, na Universidade Católica de Lima, na Sorbonne, na Universidade Complutense de Madri, e em outras universidade internacionais. As viagens para outros países foram fundamentais para sua biografia e sua obra e para melhor mostrar-lhe o Brasil, país que é para ela a preocupação maior, a razão da sua inquietação intelectual.

Em 1990, candidatou-se à cátedra Henry King Stanford em Humanidades, da Universidade de Miami, para substituir Isaac Baskins. Na seleção de 80 intelectuais inscritos, foi um dos cinco finalistas. Assumiu, como titular da cátedra, em 1991. A partir desse ano, ali realizou cursos anualmente, de janeiro a maio, participando de debates, encontros, e proferindo conferências. Em agosto de 1996, desligou-se temporariamente da cátedra, ao assumir interinamente a presidência da Academia Brasileira de Letras, na ausência de presidente Antonio Houaiss.

Na Academia Brasileira de Letras, foi diretora do Arquivo (desde 1990); eleita primeira-secretária (26.6.1995) e secretária-geral (7.12.1995); presidente em exercício (ago.-dez. 1996). Foi eleita presidente da Academia em 5 de dezembro de 1996. É a primeira mulher, em 100 anos de existência da ABL, a integrar a Diretoria e ocupar a presidência da Casa de Machado de Assis, no ano do seu I Centenário.

Sua estréia na literatura foi com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961, que trata do tema do pecado, do perdão e da relação dos mortais com Deus através do diálogo entre a protagonista e seu anjo da guarda. Desde o início a escritora filiou-se ao movimento que, depois de Guimarães Rosa, se orienta pela renovação formal da linguagem. No romance Fundador, publicado em 1969, Nélida Piñon abandona a base realista que comanda a criação literária analógica do mundo e põe em cena personagens históricos e ficcionais, criando um mundo eminentemente estético. Em 1972, publica A casa da paixão, romance em que irrompe o tema do desejo e da iniciação sexual. Publica a seguir livros de contos e mais dois romances, até sair o romance autobiográfico A república dos sonhos, em 1984, narrando a saga de uma família enraizada na Galiza que emigra para o Brasil. Em A doce canção de Caetana, romance de denúncia política publicado em 1987, faz uma incursão ao universo de uma cidade do interior, Trindade, à época da mentira do milagre brasileiro, no começo dos anos 70. No livro O pão de cada dia, de 1994, Nélida Piñon deixa de lado a moderna ficção na qual se consagrou e empreende uma reflexão profunda sobre as inquietações do homem, através de fragmentos que exprimem emoções, idéias e pensamentos.

Ao longo de mais de 35 anos de ininterrupta atividade criadora, Nélida Piñon é um testemunho de que, entre as possíveis maneiras de se exprimir que o homem tem a seu dispor, a palavra é aquela que mais diretamente o põe a nu consigo mesmo, quer diante dos seus problemas individuais, quer frente às suas mais dramáticas contradições enquanto ser social, político, cultural, economicamente determinado. Daí a sua consciência da função do escritor, que não deve se limitar apenas a criar, sua tarefa máxima, mas também deve emprestar sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo em um país como o Brasil, onde é preciso fazer com que o povo reflita sobre a sua realidade e reivindique uma realidade melhor e mais justa.

Sua obra está traduzida para países como Alemanha, Itália, Espanha, União Soviética, Estados Unidos, Cuba e Nicarágua. Contos seus encontram-se publicados em centenas de revistas e fazem parte de antologias brasileiras e estrangeiras. Recebeu vários prêmios literários: Prêmio Walmap, pelo romance Fundador (1970); Prêmio Mário de Andrade, pelo romance A casa da paixão (1973); Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte e Prêmio Ficção Pen Clube pelo romance A República dos sonhos (1985); Prêmio José Geraldo Vieira, da União Brasileira de Escritores de São Paulo, pelo romance A doce canção de Caetana (1987); Prêmio Golfinho de Ouro, pelo Conjunto de Obras, conferido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro (1990); Prêmio Bienal Nestlé, pelo Conjunto de Obras (1991); Prêmio Internacional de Literatura Juan Rulfo, o mais importante da América Latina e do Caribe, concedido pela primeira vez a uma mulher e a um autor de língua portuguesa (1995).

Obras: Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, romance (1961); Madeira feita cruz, romance (1963); Tempo das frutas, contos (1966); Fundador, romance (1969); A casa da paixão, romance (1972); Sala de armas, contos (1973); Tebas do meu coração, romance (1974); A força do destino, romance (1977); O calor das coisas, contos (1989); A república dos sonhos, romance (1984); A doce canção de Caetana, romance (1987); O pão de cada dia, fragmentos (1994); A roda do vento, romance infanto-juvenil (1996); O ritual da arte, ensaio sobre a criação literária (inédito).