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Joracy Camargo (J. Schafflor C.), jornalista, cronista, professor e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 18 de outubro de 1898, e faleceu na mesma cidade em 11 de março de 1973. Eleito em 17 de agosto de 1967 para a Cadeira n. 32, na sucessão de Viriato Correia, foi recebido em 16 de outubro de 1967, pelo acadêmico Adonias Filho.

Filho de João Drummond Camargo e de Julieta Schafflor Camargo, fez o curso primário na Escola Ramiz Galvão e o ginásio no Colégio Americano-Brasileiro e no Ginásio Federal. Graduou-se em ciências jurídicas e comerciais pelo Instituto Comercial do Rio de Janeiro. Iniciou a vida pública em 1916, como funcionário das Obras Novas contra os Secas, com exercício no interior de Pernambuco. Regressou ao Rio no ano seguinte, exercendo outros cargos burocráticos, até 1930, quando passou a dedicar-se exclusivamente ao jornalismo. Ingressara em 1919 na redação de O Imparcial, do qual se afastou em 1920 para colaborar com João do Rio na fundação de A Pátria. Como redator desse jornal, passou a interessar-se pelas letras teatrais.

Escreveu a sua primeira peça de sucesso movido por dificuldades financeiras e atendendo a um pedido da Empresa Pinto & Neves, do Teatro Recreio Dramático. Em colaboração com Pacheco Filho, escreveu uma revista intitulada Me leva, meu bem, representada no Teatro Recreio, em 1925, pela Companhia Margarida Max, com grande êxito. A revista Calma Brasil, surgida no ano seguinte, atingiu o mesmo sucesso. Em 1927 vieram as comédias De quem é a vez? e A menina dos olhos, com interpretação de Leopoldo Fróis, Dulcina de Morais, Plácido Ferreira e outros. Estava, assim, firmada a reputação de Joracy Camargo como autor teatral e como jornalista, passando a escrever continuadamente para todos os teatros, tendo sido convidado por Mário Rodrigues para participar da redação de A Manhã.

Em 1931, escreveu a primeira comédia para o ator Procópio Ferreira, com o título O bobo do rei, considerada pela crítica como o início do teatro social no Brasil, e tal foi a sua repercussão que recebeu o prêmio de teatro da Academia Brasileira de Letras em 1932. Nesse ano escreveu a peça Deus lhe pague, representada pela primeira vez no Teatro Boa Vista, em São Paulo, no dia 30 de dezembro, pela Companhia Procópio Ferreira. Em 15 de junho de 1933 era representada no Teatro Cassino Beira-Mar, no Rio de Janeiro. O sucesso foi instantâneo, e todas as companhias brasileiras passaram a ter Deus lhe pague em seus repertórios. Vertida para o castelhano, por José Siciliano e Roberto Talice, foi representada em Buenos Aires, simultaneamente, em quatro teatros. Em 1936, foi incluída no repertório das companhias de todos os países latino-americanos. Na Universidade de Baltimore, nos Estados Unidos, a peça foi adotada como livro auxiliar para os estudantes de língua portuguesa, tendo sido então representada, pelos alunos, não só naquela instituição como na Academia Militar de West-Point. Em 1935 Procópio Ferreira alcançou grande sucesso com as representações da peça em Lisboa; em 1947 foi representada em Madri e em todo o interior da Espanha, em tradução do marquês Juán Inácio Luca de Tena. Essa peça foi vertida para muitos idiomas, inclusive o polonês, hebraico, iídiche e japonês, e constituiu, ainda, o maior sucesso de livraria da literatura teatral. Em vida do autor, alcançou, no Brasil, trinta edições, cinco em Portugal, três na Argentina, duas no Chile e nos Estados Unidos e uma em diversos outros países.

Em 1941, organizou uma companhia de comédias, com a qual percorreu as principais cidades do país. Sempre lutou pela educação do povo. A imprensa e o teatro eram para ele os meios eficientes de comunicação, mas não ficou limitado a esses dois setores, para a efetivação de seus ideais. Prestou serviços de colaboração na Campanha de Educação de Adultos e realizou inquéritos para o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, do Ministério da Educação e Cultura, visitando, durante cinco anos consecutivos, todo o território nacional, proferindo conferências e palestras e realizando cursos intensivos de artes cênicas para amadores teatrais. Organizou o I Congresso Brasileiro de Teatro. Foi professor de Técnica Teatral no Curso de Especialização Teatral para Professores e de Estética no Conservatório Nacional de Teatro, do Ministério da Educação e Cultura, e professor de História do Teatro na Academia de Teatro da Fundação Brasileira de Teatro.

Como delegado do Brasil, participou dos congressos internacionais de autores e compositores, realizados em diversos países, de 1935 a 1966. Em 1967, participou da Conferência Diplomática de Estocolmo para a revisão da Convenção de Berna para a Propriedade Intelectual.

Foi presidente da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), vice-presidente do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Brasileira de Teatro, secretário-geral do Sindicato dos Compositores do Estado da Guanabara, presidente do Conselho Diretor do Serviço de Defesa do Direito Autoral; membro do Conselho Administrativo da Associação Brasileira de Imprensa, agraciado com a Ordem do Mérito Jornalístico e a do Mérito do Trabalho; membro efetivo da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, da qual recebeu a Medalha de Ouro de Melhor Autor, e do Instituto Brasileiro de Teatro.

É vasta a produção deixada por Joracy Camargo. Além de revistas teatrais, comédias e dramas, escreveu livros de literatura infantil, peças históricas para o rádio, os argumentos dos filmes A voz do carnaval (1933), Vinte e quatro horas de sonho (1941) e colaborou no roteiro de Vendaval maravilhoso, sobre a vida de Castro Alves (1950). Escreveu ainda as letras das canções "Favela", "Guacira" e do choro "Quem é".

Obras — REVISTAS TEATRAIS: Me leva, meu bem, em colaboração com Pacheco Filho (1925): Calma no Brasil (1925); Dondoca, em colaboração com José do Patrocínio (1926); Aleluia (1929); Isto é carnaval, em colaboração com Álvaro Moreyra (1955).

COMÉDIAS E DRAMAS: De quem é a vez (1927); A menina dos olhos (1927); O irresistível Roberto (1927); O macaco azul (1927); Tenho uma raiva e você (1927); Santinha-do-pau-oco (1927); O bobo do rei (1931); O sol e a lua (1931); O amigo da família (1931); Mania de grandeza (1951); Uma semana de prazer (1932); Deus lhe pague (1932); O neto de Deus (1933); Meu soldadinho (1932); Marabá (1934); Anastácio (1936); Fora da vida (1938); Bazar de brinquedos (1939); Maria Cachuda (1940); O sábio e O burro (1940); Maktub (1941); O homem que voltou da posteridade (1941); Sindicato dos mendigos (1942); A pupila dos meus olhos (1942); Bonita demais (1945); Nós, as mulheres (1946); Grande mulher (1946); Lili do 47 (1947); Bagaço (1951); A santa madre (1953); Figueira do inferno (1954). TEATRO DE JORACY CAMARGO: Deus lhe pague - Figueira do inferno - Um corpo de luz, São Paulo, Martins (1961).

PEÇAS HISTÓRICAS PARA O RÁDIO: A Lei Áurea; A proclamação da República; A retirada da laguna; O fim do Segundo Reinado; Festa das personagens de Machado de Assis; O grito do Ipiranga; O duque de Caxias; Tamandaré; O sorteio militar. (Estas peças foram irradiadas pela Hora do Brasil e editadas pelo Departamento de Difusão Cultural do Ministério da Justiça, em 1938.)

ENSAIO: O teatro soviético (1937); Getúlio Vargas e a inteligência nacional (1940).