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Américo Jacobina Lacombe, professor, historiador, biógrafo e ensaísta, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 7 de julho de 1909, e faleceu na mesma cidade em 7 de abril de 1993. Eleito em 24 de janeiro de 1974 para a Cadeira n. 19, na sucessão de Silva Melo, foi recebido em 2 de julho de 1974, pelo acadêmico Luís Viana Filho.

Filho de Domingos Lourenço Lacombe e de Isabel Jacobina Lacombe, cresceu dentro de um colégio, o famoso Curso Jacobina; ali mesmo fez os primeiros estudos, orientado por sua mãe, notável mestra. A saúde não permitiu, porém, que concluísse o curso no meio familiar. Teve de mudar-se para Belo Horizonte, onde poderia obter melhoras para sua saúde. Na capital mineira passou um ano, matriculado no Colégio Arnaldo, onde foi colega, entre outros, do futuro escritor Guimarães Rosa.

De novo no Rio, matriculou-se na Faculdade de Direito, tendo completado o curso em 1931. Ligou-se por laços de amizade a um grupo de jovens — seus colegas de turma ou de vida acadêmica — que depois se projetaria nos mais diversos campos da vida nacional. Foram eles, entre outros, San Tiago Dantas, Antônio Gallotti, Elmano Cruz, Aroldo Azevedo, Almir de Andrade, Hélio Viana, Otávio de Faria, Vicente Chermont de Miranda, Antônio Balbino, Gilson Amado, Thiers Martins Moreira, Plínio Doyle e, mais moço que todos, Vinicius de Moraes.

Tendo recebido em casa formação religiosa que fez dele um católico convicto, foi levado, como estudante, a procurar a Ação Universitária Católica e a freqüentar o Centro D. Vital, onde teve oportunidade de aproximar-se de Jackson de Figueiredo e do sábio Padre Leonel Franca, S. J.

As inquietações e os ideais próprios da idade fizeram com que participasse, também, de agremiações juvenis, como o Centro Acadêmico Jurídico Universitário — o famoso Caju — depois Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos, a cujas sessões costumava comparecer, de cuja revista foi o principal redator, ao lado de San Tiago Dantas, Otávio de Faria e Hélio Viana. Nessa qualidade promoveu um Inquérito de Sociologia Brasileira, na época muito discutido, e que mereceu de Azevedo Amaral este comentário: "a mocidade ainda na idade de aprender começa a dar lições aos que deveriam ter sido seus mestres."

Recebido o diploma de bacharel, em nenhum momento se viu o jovem Lacombe atraído pelo exercício da profissão de advogado. Quase sem sentir, encaminhou-se para a atividade que, ao lado da de professor, seria o seu ganha-pão quotidiano: o serviço público. De fato, no próprio ano da formatura, era nomeado Secretário do Conselho Nacional de Educação, cargo em que permaneceu de 1931 a 1939.

As preocupações intelectuais e o gosto do estudo levaram-no a fazer, na mesma Faculdade, o curso de Doutorado, concluído em 1933.

Em 1935 casou-se com Gilda Masset, tendo tido o casal cinco filhos: Américo Lourenço, Francisco José, Luís Antônio, Mercedes e Eduardo.

Já nessa época lecionava História (Geral e do Brasil) em vários colégios desta cidade, tendo sido levado pelo líder do laicato católico — Alceu Amoroso Lima — a participar do grupo que lançou as bases da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde, a partir de 1941, lecionou História do Brasil. Tornou-se Professor Emérito desse educandário.

Deixando a Secretaria do Conselho Nacional de Educação, passou, em 1939, a Diretor da Casa de Rui Barbosa. E a escolha do Ministro Gustavo Capanema não poderia ter sido mais acertada, pois Lacombe, ligado ao Conselheiro por laços de parentesco — sua avó materna era Barbosa de Oliveira — desde os bancos ginasiais se revelou um ruísta apaixonado, tendo, já em 1934, prefaciado e anotado a correspondência do grande brasileiro, reunida no volume Mocidade e exílio. Como Diretor da Casa ficou até 1967, ocasião em que se dá a transformação desse órgão do antigo Ministério da Educação e Cultura em Fundação, para cuja presidência foi nomeado e em cujo exercício permaneceu até 1993. Durante esse período, só se afastou em duas ocasiões: de 1959 a 1960, para exercer o cargo de Secretário de Educação e Cultura do antigo Distrito Federal, na administração do prefeito Sá Freire Alvim, e de 1962 a 1963, quando foi chamado a dirigir a Casa do Brasil de Civilização Brasileira na École des Hautes Études de l’Amérique Latine, da Sorbonne.

À frente da Casa de Rui Barbosa, sua atuação foi das mais profícuas, tendo sabido transformar essa instituição, de simples museu destinado a preservar a antiga residência, os móveis, a biblioteca e o arquivo do grande brasileiro, e publicar-lhe os escritos, num centro cultural ativo e dinâmico. Ainda nessa condição, cumpre destacar o seu papel como orientador e coordenador da publicação das Obras completas de Rui Barbosa, um dos mais arrojados empreendimentos editoriais do País, que já chegou a 125 tomos publicados.

Américo Jacobina Lacombe era Grande Benemérito e Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em substituição a Pedro Calmon. Era também membro de várias instituições congêneres dos estados, assim como da Academia Portuguesa da História e do Instituto de Coimbra.

A partir de 1951 passou a integrar a Comissão de Textos de História do Brasil do Ministério das Relações Exteriores e foi também coordenador do ensino de História no Instituto Rio Branco (Itamarati). Desde 1957 dirigiu a coleção Brasiliana, da Cia. Editora Nacional, onde substitui Fernando Azevedo. Participou das bancas examinadoras de vários concursos no Colégio Pedro II e nas Universidades de São Paulo e da Bahia.

Pertenceu ao Conselho da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa e até 1980 foi Presidente da Alliance Française do Rio de Janeiro, tendo recebido pouco antes, das mãos do Embaixador Jean Béliard, a Cruz da Legião de Honra. Ao agradecer a condecoração com que o distinguiu o governo da França, Américo Jacobina Lacombe recordou as origens francesa de sua família, descendente de Louis Lacombe, maître de ballet que, em companhia de dois irmãos, aqui chegou em 1818, vindo de Marselha, atraído pelo brilho da corte de D. João VI.

Sua bibliografia costuma ser dividida em duas partes: obras de História, em geral, e trabalhos sobre Rui Barbosa, já que, como disse Luís Viana Filho no discurso com que o recebeu na Academia, é ele um cardeal, senão o papa na fraternidade dos devotos do maior dos baianos.

Obras: Um passeio pela história do Brasil, quatro conferências proferidas na Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa (1942); Brasil. Período nacional, programa de História da América (1956); Paulo Barbosa e a fundação de Petrópolis (1941); Paulo Barbosa, biografia (1950); Anchieta, ensaio (1973); Introdução ao estudo da História do Brasil (1974; Coleção Brasiliana); História do Brasil (1979); O clero no Parlamento Brasileiro. Documentos parlamentares, 5 vols., em colaboração com o pe. Fernando Bastos de Ávila (1979); Independência do Brasil (1980); A obra histórica do padre Hoornaert (1983); Afonso Pena e sua época, biografia (1986); Ensaios brasileiros de história (1989; Brasiliana); Ensaios históricos (1990). SOBRE RUI BARBOSA: Roteiro das Obras completas de Rui Barbosa, 2 vols. (1974); Mocidade e exílio. Cartas de Rui Barbosa prefaciadas e anotadas (1934; Coleção Brasiliana); O pensamento vivo de Rui Barbosa (1944); Rio Branco e Rui Barbosa (1948); Ensaios literários de Rui Barbosa, seleção e prefácio (1949); Rui Barbosa e a primeira Constituição da República (1949); Formação literária de Rui Barbosa (1954); Presença de Rui Barbosa na vida brasileira (1967); A educação e o pensamento de Rui Barbosa (1975); À sombra de Rui Barbosa (1978; Coleção Brasiliana); Introdução ao vol. Rui Barbosa. Escritos e discursos seletos (1960); Rui, o parlamentar (1978). Coordenação e anotação de volumes das Obras completas de Rui Barbosa, 125 vols.

Encontram-se colaborações de Américo Jacobina Lacombe em várias revistas especializadas e em obras coletivas, além de prefácios e introduções a obras de vários autores. Entre as suas traduções, citam-se as Viagens aos planaltos do Brasil — 1868, 3 vols., de Richard Burton; o Diário de uma viagem ao Brasil, de Maria Graham, e As relações entre a Áustria e o Brasil, de Ezekiel Stanley Ramirez.