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Heráclito Graça (H. de Alencastro Pereira da G.), advogado, magistrado, jurista, político, jornalista e filólogo, nasceu em Icó, CE, em 18 de outubro de 1837, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de abril de 1914. Eleito em 30 de julho de 1906 para a Cadeira n. 20, na sucessão de Pedro Rabelo, foi recebido em 26 de novembro de 1919, pelo acadêmico Lauro Müller.

Era filho do conselheiro José Pereira da Graça, barão do Aracati, e de Maria Adelaide da Graça, e tio de Graça Aranha. Realizados os estudos primários e secundários, fez os preparatórios na cidade do Recife, onde se diplomou, em 1857, na Faculdade de Direito. Deixou já como acadêmico um rastro brilhante de sua extraordinária inteligência e dedicação aos estudos. Depois de formado, foi viver com a família no Maranhão, onde seu pai era desembargador. Exerceu a magistratura, começando como promotor de Justiça em São Luís. Findo o primeiro quadriênio, pediu demissão, consagrando-se à advocacia, à política e ao jornalismo.

Fez parte do Partido Conservador. Fundou A Situação, jornal em que defendeu as idéias do partido. Simultaneamente trabalhava em um semanário literário que também tinha a colaboração de Joaquim Serra, Gentil Braga, Trajano Galvão e outros. Não só no jornalismo político, senão no literário, via-se nele o futuro mestre da língua, tal o cuidado e esmero com que escrevia e a paixão que tinha pelos estudos da língua portuguesa.

Maranhense adotivo, elegeu-o o Maranhão representante na Câmara da província em duas legislaturas. Em 1968 foi eleito para a assembléia geral, legislatura 1869-1872; dissolvida esta, foi presidente da Paraíba. Reeleito deputado para a legislatura 1872-1875, e para a seguinte, que também foi dissolvida; foi designado para presidir o Ceará em fins de 1874.

Na Câmara, registrou-se a atuação que ele teve nos debates da reforma judiciária (1871), do recrutamento eleitoral (1875), da Lei do Ventre Livre. Na administração da Paraíba e do Ceará, exerceu o governo com correção e coerência a seus princípios. A probidade de caráter, a austeridade de suas medidas e a independência das atitudes o incompatibilizaram logo com as correntes políticas dominantes.

Em 1877, voltou ao Rio de Janeiro, indo a princípio advogar em companhia de José de Alencar, de quem era grande amigo. Além de profundo conhecedor do vernáculo, era ainda jurista eminente, e, como tal, o barão do Rio Branco convidou-o para advogado do Brasil nos tribunais arbitrais com o Peru e a Bolívia, sendo depois disso nomeado consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, cargo que ocupava quando faleceu.

Além de tantas atividades, era no estudo da língua que ele encontrava a maior satisfação, anotando pacientemente os clássicos e mais sistematicamente o Elucidário de Viterbo, ao fim do qual escreveu: "O Elucidário contém 6.143 vocábulos, foram acrescidos 7.457, perfazendo o total de 14.600." Isso mostra o seu grande saber e capacidade de trabalho, e também a sua modéstia, pois era avesso à publicidade do que escrevia e realizava. Mesmo o único livro que publicou, resultou de circunstância especial.

Logo que apareceram os três volumes das Lições práticas da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, o filólogo Heráclito Graça publicou no Correio da Manhã, de 26 de fevereiro a 16 de novembro de 1903, sob a epígrafe "Notações filológicas", uma série de artigos de refutação àquele mestre, esmiuçando, com clareza e logicidade admiráveis, os problemas lingüísticos por ele tratados, não só nos mencionados artigos, mas ainda nos que publicou no Jornal do Commercio, sob o título "O que se não deve dizer". Em 1904, reuniu em volume o que ele próprio chamou de "meus pobres reparos a alguns pontos filológicos e vernáculos do Sr. Cândido de Figueiredo" no livro intitulado Fatos da linguagem: esboço crítico de alguns assertos do sr. Candido de Figueiredo.

Obra: Fatos da linguagem (1904). Nova edição, com prefácio do historiador Raimundo Girão, foi organizada em 1968, pela Secretaria da Cultura do Ceará.