SONETO

Na etérea limpidez de um sonho branco,
Lúcia sorriu-se à bruma nevoenta,
E a procela chorou n'um fundo arranco
De mágoa triste e de paixão violenta.

E Lúcia disse à bruma lutulenta:
- Foge, senão co'o o meu olhar te espanco!
E eu vi que, à voz de Lúcia, grave e lenta,
O céu tremia em seu trevoso flanco.

Fulgia a bruma para sempre. A vida
Despontava na aurora amortecida
 rutilância mágica do dia.

Aquele riso despertava a aurora!
E tudo riu-se, e como Lúcia, agora,
O sol, alegre e rubro, também ria!