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Artur Jaceguai (A. Silveira de Mota, barão de Jaceguai), almirante, historiador e memorialista, nasceu em São Paulo, SP, em 26 de maio de 1843, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 6 de junho de 1914. Eleito em 28 de setembro de 1907 para a Cadeira n. 6 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Teixeira de Melo, foi recebido pelo acadêmico Afonso Arinos em 9 de novembro de 1907.

Filho do conselheiro José Inácio Silveira da Mota, fez os estudos iniciais no Colégio Vitória e, aos 15 anos, era aspirante a guarda-marinha na Escola Naval do Rio de Janeiro, concluindo o curso em 1860. Por essa época o futuro almirante esteve bem próximo de deixar a carreira em que haveria de obter tantas glórias: o conselheiro Silveira da Mota, impressionado com a catástrofe que destruíra a corveta Isabel, na qual perecera toda uma turma de guardas-marinhas, solicitou ao ministro da Guerra, conselheiro Rego Barros, que seu filho fosse transferido para as fileiras do Exército. Mas a essa idéia se opôs o guarda-marinha Artur Silveira da Mota, cuja paixão pela vida do mar era verdadeira e profunda.

Em 1861, fez a primeira viagem de instrução, a bordo da corveta Baiana, sob as ordens do capitão-de-mar-e-guerra José Maria Rodrigues. Visitou, nessa ocasião, a Inglaterra, a França, a Espanha, a costa da África e os Estados Unidos. Em 1862, foi promovido a segundo-tenente, sendo nomeado instrutor de hidrografia da turma de guardas-marinhas, que fazia sua viagem de instrução de longo curso, a bordo da fragata Constituição. Logo a seguir, foi promovido ao posto de primeiro-tenente.

Em 20 de fevereiro de 1865, seguiu para o Prata, a fim de se incorporar à esquadra que ia iniciar as operações contra Francisco Solano Lopez. Em 27 de março era nomeado secretário e ajudante-de-ordens do almirante Tamandaré, comandante-em-chefe das forças navais brasileiras em operações de guerra no Rio da Prata, que, ao findar seu período naquele posto, propôs a promoção do seu ajudante a capitão-tenente. Jaceguai obteve, nessa ocasião, o grau de Conselheiro do Cruzeiro. Enviou-o o marquês de Caxias ao Rio, em missão reservada e especial junto ao Imperador. Jaceguai desincumbiu-se com discrição e com finura e, ao regressar ao Prata, foi nomeado comandante do encouraçado Barroso. Tomou parte destacada na batalha de Curupaiti. A confiança de Caxias e de Inhaúma deu-lhe comissões das mais arriscadas e difíceis. Numa delas, em Humaitá, Jaceguai realiza o grande feito de sua vida, num lance maravilhoso, forçando a passagem perigosíssima do rio, sob o fogo incansável dos canhões paraguaios.

Ao findar a guerra do Paraguai, tinha ele 26 anos e já era capitão-de-mar-e-guerra. Foi nomeado comandante do navio Niterói, então o maior navio da esquadra brasileira, e partiu para uma viagem de instrução de longo curso, comandando os guardas-marinhas e oficiais, pela costa norte brasileira.

Estudioso das questões navais, Jaceguai preocupou-se com o sistema a adotar na esquadra brasileira. Era partidário do sistema Armstrong, que se opunha ao Whitworth, e, em conferências públicas, algumas das quais com a presença de Pedro II, defendeu o seu ponto de vista. Feitas experiências sobre o assunto, de acordo com as indicações de Jaceguai, a Marinha brasileira passou a usar o sistema Armstrong.

Deixando a fragata Niterói, Jaceguai foi comandar uma esquadra incumbida de fazer levantamento hidrográfico no estuário do Prata. A seguir, foi nomeado adido naval junto às legações brasileiras em todas as cortes européias, recebendo o encargo particular de estudar a organização naval desses países. Em dezembro de 1878, foi promovido ao posto de chefe-de-divisão e, no ano seguinte, nomeado enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em missão especial na China. Seguiu a bordo da corveta Vital de Oliveira. Ao voltar, foi escolhido para remodelar o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. Em 1882, foi promovido a chefe-de-esquadra, posto que corresponde a vice-almirante, e recebeu o título de Barão de Jaceguai.

Em 1887, pediu reforma, ato que provocou veementes apelos de seus camaradas de classe e de seus amigos. Afastado da vida ativa, não se desligou de todo da profissão que tanto amava. Em 1897, foi nomeado diretor da Biblioteca da Marinha, Museu e Arquivo, e para redator da Revista Marítima Brasileira. Em 1900 foi nomeado diretor da Escola Naval, onde realizou um grande programa de administração.

Jaceguai candidatou-se à Academia incentivado por Joaquim Nabuco, dentro da idéia de que a Academia deveria representar, nos seus quadros, toda a vida mental brasileira e não apenas os aspectos da atividade literária nacional. No discurso de posse, Artur Jaceguai deixou de fazer o elogio do antecessor, Teixeira de Melo, alegando "não haver conhecido o homem nem a sua obra". Goulart de Andrade, que o sucedeu na Academia, acreditava ter encontrado outra explicação para esse silêncio: é que nas Efemérides nacionais, ao relatar a passagem de Humaitá pela esquadra brasileira, Teixeira de Melo citou o nome do comandante da divisão, Delfim Carlos de Carvalho, depois barão da Passagem, omitindo o do comandante do Barroso, Artur Silveira da Mota.

Obras: Organização naval, reunião de artigos (1896); O dever do momento. Carta a Joaquim Nabuco (1897); Quatro séculos de atividade marítima Portugal e Brasil (1900); Ensaio histórico sobre a gênesis e desenvolvimento da Marinha brasileira (1903); De aspirante a almirante, memórias, 5 vols. (1906, 1909, 1910, 1913 e 1917); Reminiscências da Guerra do Paraguai (1935).